Oswald de Andrade: o culpado de tudo

A exposição ficará aberta à visitação pública na Sala das Exposições Temporárias do Museu da Língua Portuguesa entre 27 de setembro de 2011 e 30 de janeiro de 2012.

 A frase “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas”, escrita por Oswald em 1933 no verso da folha de rosto da edição original de Serafim Ponte Grande, é o ponto de partida da exposição e pode ser lida já no pátio de acesso ao museu.

 Em Oswald de Andrade: o culpado de tudo, o público tem a oportunidade de conhecer profundamente o polêmico escritor, um dos criadores da Semana de Arte Moderna de 22. A curadoria é de José Miguel Wisnik, com  curadoria-adjunta de Cacá Machado e Vadim Nikitin. Carlos Augusto Calil e Jorge Schwartz são consultores da exposição. O projeto expográfico é do arquiteto Pedro Mendes da Rocha.

Módulos


As Quatro Gares

Painéis ilustrados retirados do poema As quatro gares introduzem o visitante à exposição.Na parte posterior deste mesmos painéis estão as quatro fases da vida e obra de Oswald de Andrade: boemia; vanguarda;revolução; e utopia.

As Mulheres
Este módulo faz uma contraposição do patriarcado paulista com o matriarcado de Oswald, do qual as mulheres compõem uma maravilhosa galeria. Etiquetas informam os nomes de cada uma e brevíssimos resumos da relação delas com Oswald.No centro da instalação a escultura Deisi, de Victor Brecheret.

Semana de Arte Moderna e Pau Brasil

Os dois módulos estão um de frente para o outro.No módulo  Semana de Arte Moderna de 1922 o visitante poderá conhecer uma série de afirmações do próprio Oswald sobre o importantes movimento. Já no módulo Pau Brasil,além do autor,o visitante constatará as ilustres presenças de Paulo Prado, Tarsila do Amaral e Blaise Cendrars. Nesta área expositiva o “Manifesto Pau Brasil” está gravado em um dos painéis.

Descoberta do Brasil

No centro deste módulo, uma nota antiga de mil Cruzeiros com a figura de Pedro Álvares Cabral carimbada com o título da exposição “O culpado de tudo”, obra do artista plástico Cildo Meirelles. Neste módulo estão em evidência as cenas da colonização: descoberta; catequese; escravidão; Zé Pereira; o bumbo do carnaval; Gonçalves Dias ;o indianismo romântico;  o engenho do açúcar cozinhando escravos; e o próprio carnaval. Uma alegoria das culturas e “descobertas” do país.

Praça da Apoteose

 Como no Carnaval, vários temas e alegorias se misturam e circulam por esta área expositiva:

Finanças: Crack (Crise do café) – Imagens da crise de 1929;
 Manifesto Antropófago ;.
Traição de Classe,fonte: “João Miramar” / “Serafim Ponte Grande”;
 Traição de Classe,fonte: “O Homem do Povo”;
 MariOswald ,contraponto das duas  personalidades:  Oswald e Mário de Andrade;
 Totem & Tabu;
 Pós Oswald , o legado de Oswald nas gerações seguintes;
 Antena da Raça, Oswald pressentindo o futuro;e
A antropofagia do diretor Zé Celso, do Teatro Oficina e da Tropicália.

Ainda neste módulo, o visitante poderá deixar registrada sua visita e suas impressões em um ambiente que recria cenograficamente a “garçonnière” onde Oswald produziu O perfeito cozinheiro das almas deste mundo, diário coletivo no qual os amigos do autor escreviam poemas e recados.

Língua Pátria

O corredor de saída da exposição,com vistas para o Jardim da Luz, apresenta poemas e textos estrategicamente colocados e reproduzidos de modo a aproximar mais ainda as ruas e vielas da cidade do museu .

Banheiro

 Nos banheiros da Sala das Exposições Temporárias uma divertida e poética seleção de frases ligeiramente pornográficas de Oswald. Aos mais sensíveis e pudicos, o museu recomenda o uso dos banheiros instalados no segundo andar.


 Frases emblemáticas do autor como  “Tupi ou not Tupi, that is the Question” permeiam toda a mostra,circulando lentamente por todo o espaço expositivo , em um movimento lento... circular... contínuo.


Museu da Língua Portuguesa
Estação da Luz

Praça da Luz, s/nº
Centro - São Paulo - SP
(11) 3326-0775
museu@museulp.org.br





Becas e cocares, teko Arandu

Espaço da sabedoria, do diálogo, da interculturalidade, teko arandu
24/10/2011
Egon Heck

O que poderia ser mais um dia normal na Universidade Federal da Grande Dourados -UFGD tornou-se um momento memorável para algumas dezenas de formandos Kaiowá Guarani, que concluíram o Curso de Licenciatura Indígena Teko Arandu. O curso é resultado de um árduo trabalho, sonhos e insônias de dezenas de professores Guarani Kaiowá e seus apoiadores. Numa bela manhã de primavera, o grande auditório da universidade, com capacidade para mais de mil pessoas, começou a ter um movimento um tanto diferente. Na sala de entrada uma rara cena em que ansiosos jovens da cor da terra e olhos puxados para o horizonte, montavam um cenário de interação de culturas e símbolos, resultado de um esforço de interculturalidade. Becas, cocares, colares, pinturas davam conta do sincretismo de um ritual celebrativo de formatura da primeira turma de do Curso de Licenciatura Kaiowá Guarani com especialidade em ciências sociais, linguagem, matemática e ciências ambientais.
Ao ver aquele belo e inusitado ambiente de alegria e cores, perguntei ao diretor do curso, professor Antônio Dari Ramos, porque a opção pelas vestimentas formais de formatura – becas, togas, faixas... Ele foi categórico ao afirmar que essa foi uma decisão dos formandos, depois de anos de discussão a esse respeito. A principal justificativa era de que, se os demais alunos da Universidade se formavam desta forma, porque eles não poderiam também. Ou seja, entendiam eles que poderia ser mais uma forma de discriminação ao invés de uma valorização da diferença.
O ritual: a interculturalidade possível e visível
O Reitor da UFGD, Damião Duque de Farias, com muita honestidade situou essa conquista importante do movimento indígena como um passo possível dentro da construção da Universidade Intercultural Indígena. Além da formatura da primeira turma, ele assinou a criação da Faculdade de Estudos Indígenas. No final pediu perdão aos indígenas pelo fato da universidade nem sempre ter conseguido responder às expectativas, direitos e demandas do movimento indígena.
A diferença pôde ser percebida pela presença de lideranças indígenas em todas as mesas constituídas na solenidade e pelo ritual religioso que abençoou o evento, trazendo energias para os 39 formandos Kaiowá Guarani. Uma nhandesi, líder religiosa, foi também paraninfa do grupo, fazendo sua fala aos formandos em guarani.
O juramento foi também feito em guarani, quando assumiram a responsabilidade com os direitos de seu povo e de suas aldeias, através de sua atuação em favor da comunidade, e da construção de uma escola com autonomia e de afirmação da identidade e vida de seu povo.
O Cocar e a toga foram se revezando no decorrer da cerimônia.
Fala Guerreira
“Sonhávamos uma universidade que atendesse as demandas dos nossos tekohá (terras tradicionais indígenas), que ouvisse e respeitasse as especificidades próprias dos professores Kaiowá Guarani e do nosso povo, através da partilha de cosmovisões, saberes e práticas diferenciadas, da construção coletiva de conhecimentos, que só acontece pelo diálogo entre as pessoas que se dispõem a construir um diálogo intercultural”, afirmou Valdelice Veron – Xamiri Nhupoty, a oradora do grupo. Após historiar o difícil, mas gratificante processo de construção do curso, até o sonho se tornar realidade, afirmou que “ainda necessitamos mais sobre a sabedoria de nossos ancestrais – teko arandu -e construir caminhos novos para enfrentar os graves desafios que nosso povo está vivendo hoje, tais como a recuperação de nossas terras tradicionais, e viabilizar uma gestão territorial Kaiowá guarani, sustentável, autônoma, de acordo com nosso modo próprio de ser e viver.” Incentivou os novos cursistas conclamando-os a não desanimarem mas a continuarem “firmes na luta, pois temos muito ainda a fazer por nosso povo e pela humanidade”. E no final de sua fala prestou “homenagem a todos os Kaiowá Guarani que tombaram na luta pela terra e aos professores que se foram”. Foi aplaudida ao fazer essa menção. Ainda está presente na memória de todos, não apenas o assassinato de seu pai, Marcos Veron, mas dos professores Jenivaldo e Rolindo(2009), no Ypo’i, e de tantas lideranças assassinadas nestas últimas décadas, desde Marçal (1983) a Teodoro (setembro de 2011).
Um pouco da História e perspectivas
O curso de Licenciatura Intercultural Kaiowa Guarani é resultado de um árduo e incansável sonho e luta dos professores desse povo, juntamente com amigos e apoiadores de várias instituições aliadas. O movimento de professores, iniciado na década de 80, e que hoje chega a quase 300 professores, teve sem dúvida atuação protagonista nesta iniciativa. O professor Levi Marques, patrono da turma, traçou esse rápido histórico, de sonho, luta e lágrimas, como afirmou irmã Anari: “Só Deus sabe quantas lágrimas foram derramadas para que esse curso saísse do sonho para a realidade.” Explicou que inicialmente a proposta do curso era de que ele se realizasse na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul-UFMS. A determinada altura das negociações, não houve mais condições de diálogo com o reitor, o que levou os professores indígenas a pedirem de volta a proposta do curso. Foi então que a ideia recebeu guarida por professores e o reitor da recém fundada UFGD, em 2005.
Da primeira turma de 50 alunos que iniciaram o curso em 2006, se formaram 39. Mais de uma centena de alunos entraram nas seleções subsequentes. Hoje o principal desafio é aprofundar a interculturalidade, ou seja, como fazer dialogar os conhecimentos acadêmicos com a sabedoria tradicional. Como evitar que um se sobreponha ao outro, mas o respeite, numa complementaridade que enriqueça a todos. Conforme o diretor do curso, Dari, essa é uma preocupação permanente e recorrente, que irá exigir um grande esforço no sentido de “descolonizar” a universidade e colocá-la na dimensão do diálogo igualitário com as diferenças, no caso dos Kaiowá Guarani. Outro desafio que ele aponta é como o curso não se distanciar do diálogo com a base, mantendo um vínculo permanente com as aldeias e uma presença sempre maior, nesse espaço, dos conhecimentos e saberes tradicionais. Quanto às perspectivas ele acredita serem promissoras, devendo ir na direção de uma gestão mais participativa, num diálogo mais permanente e respostas mais concretas às demandas do povo e das comunidades.
É momento de festa, de celebração, de alegria, pela vitória e conquista, que não é apenas individual, mas das famílias, das comunidades, do povo Guarani Kaiowá. Parabéns a esse povo guerreiro e lutador. Agradecimentos sinceros foram expressos a todos aqueles que acreditaram e tornaram esse sonho realidade. Dentre os batalhadores desta proposta de curso intercultural, estão inúmeras pessoas, que foram lembradas em diversos momentos, como Antônio Brand e Adir Casaro,UCDB, Veronice (que trabalhou no Cimi), Irmã Anari/Cimi, educadora, com muitos anos de dedicação à educação escolar indígena, na aldeia Te’YKue (Caarapó), dentre muitos. Especial referência foi feito ao professor Renato Gomes Nogueira-UFGD (in memória), que abraçou a causa e com teimosia e com competente persistência conseguiu levar a proposta adiante. Em reconhecimento seu nome foi escolhido como nome da turma.

Egon Heck é membro do Conselho Indigenista Missionário no MS


CARTA PÚBLICA - Mais um massacre de indígenas


Na manhã desta sexta-feira, 18 de novembro, ocorreu um massacre na comunidade Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaviry, município de Amambaí, no Mato Grosso do Sul, atacado por 42 pistoleiros fortemente armados. Segundo relatos de indígenas foi morto o cacique Nísio Gomes, de 59 anos, e uma mulher e uma criança. Ainda segundo os relatos foram sequestradas outras pessoas e há indígenas feridos. Os agentes do Conselho Indigenista Missionário, CIMI, foram orientados a não saírem de seus locais de trabalho, por estarem ameaçados.
Diante disto, a Coordenação Nacional da CPT, comovida profundamente, vem a público para denunciar o descaso com que são tratados os povos indígenas, as comunidades quilombolas e outras comunidades tradicionais em nosso Brasil. Por serem grupos humanos que não se submetem aos ditames das leis do mercado e da economia capitalista, são tratados como empecilhos ao “desenvolvimento e progresso” e por isso devem ser removidos a qualquer custo. Quando se levantam para exigir os direitos que a Constituição Federal lhes reconheceu são rechaçados violentamente. Aos interesses econômicos do capital são subordinados os direitos dos mais pobres. Diante desses interesses, os poderes da República se curvam e os reverenciam. Não é o que acontece com a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e de diversas outras no rio Teles Pires, e Tapajós que afetam áreas indígenas? Não é o que acontece quando o poder judiciário emite liminares e julga procedentes situações nas quais os povos indígenas deviam antes ser ouvidos e consultados, como manda a Constituição e Convênios internacionais assinados pelo Brasil? Não é o que acontece no Legislativo que se subordina aos ditames do agronegócio?
A triste situação em que vivem os Guarani Kaiowá vem se estendendo de longa data. Os participantes do III Congresso da CPT, realizado em Montes Claros (MG), em maio do ano passado, depois de ouvir os relatos de alguns indígenas presentes emitiram uma nota em que diziam: “A realidade das comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul é das mais cruéis e violentas de nosso país, e merece a mais forte repulsa. Foram espoliadas de suas terras e hoje vivem espremidas em minúsculas aldeias que não lhes possibilita as mais elementares condições de sobrevivência, quando não são empurradas para acampamentos às beiras das estradas, sempre perto de uma terra tradicional, sujeitas às intempéries, à fome, à sede... Um povo auto-suficiente, de uma riqueza cultural ímpar, é tratado como marginal, como escória da sociedade, mal visto pelo conjunto da sociedade sul-matogrossense. Uma realidade que clama aos céus”.
O ocorrido nesta manhã confirma e corrobora o que foi denunciado.
A Funai, que tem com missão promover e defender os direitos indígenas e lhes garantir as condições de sobrevivência tanto física, quanto cultural e espiritual, acaba tendo uma função mais que marginal, quando também não se torna subserviente aos interesses hegemônicos do capital.
A quem nega o direito dos mais fracos reafirmamos o que disse nosso III Congresso, emprestando as palavras do profeta Miquéias: “Escutem, líderes e autoridades do povo! Vocês que deviam praticar a justiça e, no entanto, odeiam o bem e amam o mal. Vocês tiram a pele do meu povo e arrancam a carne dos seus ossos. Vocês devoram o meu povo: arrancam a pele, quebram os ossos e cortam a carne em pedaços, como se faz com a carne que vai ser cozida”. (Miq 3,1-3)
Aos nossos irmãos Kaiowá Guarani, aos agentes do CIMI, a Coordenação da CPT quer manifestar sua profunda solidariedade e apoio. A causa de vocês é nossa causa, a luta de vocês é nossa luta. Com vocês compartilhamos as dores, mas, sobretudo, a esperança de que um dia a justiça vai brilhar.
Goiânia, 18 de novembro de 2011.
Coordenação Nacional da CPT

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